Dia Mundial da Obesidade: HSGER faz balanço e aponta mudança na qualidade de vida dos pacientes bariátricos
O Hospital do Servidor General Edson Ramalho (HSGER), gerenciado pela Fundação Paraibana de Gestão em Saúde (PB Saúde) e pertencente à rede estadual de saúde, realiza cirurgia bariátrica desde novembro de 2023, dentro das atividades do programa Opera Paraíba. Desde então, 17 pessoas foram beneficiadas por meio da unidade hospitalar. Nesta segunda-feira (4), é o Dia Mundial da Obesidade e, para o cirurgião-bariátrico, Daniel Hortiz, o objetivo das cirurgias é a mudança do estilo de vida dos pacientes, com mais qualidade e sua manutenção dali em diante.
O médico explicou que a cirurgia bariátrica, também conhecida como cirurgia metabólica, além de reduzir o tamanho do estômago em até 80%, modifica os hormônios no organismo do paciente, regulando melhor o funcionamento do pâncreas, a liberação de insulina e o controle da glicemia. “É um procedimento muito benéfico aos pacientes diabéticos. Muitos deles melhoram a ponto de ter remissão completa da doença, podendo deixar de usar medicações. O mesmo vale para quem é hipertenso”, comentou. Assim aconteceu com a dona de casa Ana Carolina dos Santos, de 29 anos, residente na cidade do Conde, que não precisa mais usar as medicações.
A mudança na vida dela ocorreu no âmbito exterior e interior. “Fisicamente, estou mais ativa. Saí do sedentarismo. Com um mês de operada, entrei na academia. Passei do manequim 52 para o 46 e acho que vai diminuir mais. Já na parte interior, estou mais feliz e confiante. O acompanhamento dos profissionais do Edson Ramalho foi a melhor coisa que me aconteceu. Esta é a terceira vez que sou acolhida aqui. Nas duas primeiras, foi no parto da minha filha mais velha e no do meio. Com a bariátrica, pela terceira, vez o Edson me deu vida. Todos os profissionais torceram por mim e deram força para eu não desistir”, disse emocionada.
Ana Carolina foi operada em dezembro de 2023 e, até o momento, perdeu 25 quilos. “A cirurgia bariátrica mudou a minha vida. Eu não tinha disposição para fazer as atividades do dia a dia. Com diabetes e hipertensão, tinha que tomar vários medicamentos para reduzir as taxas, mas a todo momento eu achava que iria morrer. Até que procurei ajuda e fui encaminhada para realizar o processo de cirurgia”, afirmou.
Casada e com três filhos, a dona de casa perdeu sua mãe muito cedo para problemas decorrentes da obesidade. “Eu já fiz várias dietas, mas a luta contra a balança piorou quando minha mãe faleceu. Ela tinha apenas 36 anos e eu, 16. A partir daí, eu engordei mais, fiquei mais ansiosa e sempre pensava que iria morrer. A obesidade trouxe muitas coisas ruins para mim. No ano passado, o médico passou cinco remédios para controlar minha pressão arterial. Foi aí que decidi mudar”, contou Ana Carolina.
Ela já não conseguia realizar as tarefas domésticas, brincar com seus filhos, subir uma ladeira ou simplesmente dobrar a perna sem se cansar. O sono também era prejudicado, porque ela acordava com falta de ar. Outro problema que a afetava era o quadro depressivo. Por já ter sofrido bulliyng na escola, Ana Carolina sempre foi retraída e não gostava muito de sair.
Acompanhamento permanente
O especialista, Daniel Hortiz, enfatizou que a cirurgia não significa uma cura por tempo indeterminado, sendo necessário o acompanhamento nutricional e endócrino, e adoção de estilo de vida saudável. A perda de peso é progressiva, com redução média de 10%, no primeiro mês, 20% até o terceiro mês, e alcance de 30% a 40%, ao longo de até um ano e meio. A paciente Ana Carolina chegou a pesar 108 quilos, quando foi encaminhada pelo sistema de Regulação para o HSGER, em outubro de 2023. Por cumprir todas as etapas do protocolo cirúrgico, ela conseguiu ser operada em dezembro e hoje pesa 83 quilos. “Mudei minha alimentação e estou ajudando minha família. Meu filho de sete anos pesa 50 quilos, mas estou passando para ele a orientação e o apoio que recebi do endocrinologista e do nutricionista do Edson Ramalho”, relatou.
Recuperação
Segundo o cirurgião-bariátrico, a cirurgia é realizada por laparoscopia, com pequenas incisões, o que proporciona recuperação mais rápida e segura. “Geralmente, o paciente não vai para a unidade de terapia intensiva. Sua recuperação é na enfermaria. Se estiver bem em 48 horas, ele vai para casa, podendo retomar as atividades leves e trabalhar sentado em 15 dias. Já as atividades físicas podem ser retomadas com um mês. Já o processo de recuperação no modelo de cirurgia com cortes abdominais leva, no mínimo, o dobro do tempo”, revelou.
Acesso ao serviço
O acesso à cirurgia é por meio do Ambulatório de Especialidades do HSGER. A coordenadora do setor, Bruna Campos, afirmou que a unidade hospitalar integra um grupo de hospitais públicos que realizam o procedimento, e o encaminhamento é por meio da Regulação de cada município. “O médico da unidade de saúde da família (USF) vai identificar se o indivíduo se enquadra no perfil de passar pela cirurgia. O protocolo dispõe que a pessoa deve ter índice de massa corpórea (IMC) acima de 40 ou acima de 35 para quem tem comorbidades. A partir daí, o médico encaminha o paciente”, apontou.
Bruna Campos ressaltou que a cirurgia só é realizada mediante um processo de avaliação multiprofissional, que inclui cirurgião bariátrico, endocrinologista, nutricionista, psicólogo, enfermeiro, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e odontólogo. “Em alguns casos, é necessário que o paciente seja consultado por pneumologista, a exemplo de uma pessoa com asma, ou por um cardiologista, em situação de paciente com pressão alta descompensada”, comentou.
A primeira consulta é com o cirurgião bariátrico, que vai solicitar a realização dos exames do pré-operatório, como análises laboratoriais e por imagem, a exemplo de endoscopia e ultrassom. Mas o processo do atendimento multiprofissional pode durar meses, a depender das condições de saúde de cada paciente.
Trabalhando no processo
A dona de casa Joelma de Souza, de 46 anos, está sendo acompanhada pelo Ambulatório de Especialidades desde novembro, mas ainda trabalha no processo da perda de peso. “Cheguei aqui com 141 quilos e consegui baixar para 132 quilos. Ainda preciso perder mais cinco quilos, então, sigo na dieta indicada pelo nutricionista”, contou ela. Outro fator é a adequação de outros parâmetros de saúde apontados nos exames laboratoriais, para que a cirurgia dela seja marcada.
Joelma de Souza disse estar ansiosa pelo procedimento para deixar no passado problemas como dores nos pés. Mas as mazelas não são apenas físicas. “Eu quero viver mais e melhor, e não ser mais apontada como gorda pelas pessoas. Isso machuca a gente. Eu me faço de durona, mas isto afeta nossa autoestima”, confessou.
De acordo com a coordenadora do Ambulatório de Especialidades do HSGER, Bruna Campos, há desistência dos pacientes durante o processo, apesar do apoio da equipe multiprofissional para que os pacientes não deixem o acompanhamento. “Muitas pessoas deixam de se cuidar quando chegam a um nível de obesidade. Portanto, fazemos um trabalho individualizado para não haver abandono do tratamento”, complementou.
Anseio por mudanças
O cirurgião-bariátrico Daniel Hortiz apontou que o maior anseio dos pacientes é melhorar a qualidade de vida. Antes de sua primeira consulta com o médico, a agricultora de 46 anos, Andrea Freitas, foi enfática: “quero minha saúde de volta!”. O excesso de peso, aliado ao quadro de hipertensão, diabetes e cardiopatia, a impede de realizar as atividades em seu sítio, na zona rural de Mogeiro, no agreste paraibano. Segundo ela, é preciso fazer mais esforço físico para dar conta do plantio, então, o que Andrea espera mesmo da cirurgia é “ter mais disposição para trabalhar”.
Ela chegou à consulta acompanhada pela filha, Lucimar França, de 23 anos, que também sonha com o procedimento cirúrgico. “Ainda vou procurar a USF do município para receber o encaminhamento. Mas só em minha mãe conseguir, eu já fiquei feliz por ela. Moramos na zona rural, então, quando chove muito, não conseguimos passar de carro, nem de moto. Mas eu vou correr atrás da minha oportunidade também”, disse esperançosa.
Conforme a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a obesidade desencadeia ou agrava uma série de doenças. A pessoa com obesidade está mais propensa a desenvolver problemas como hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, artrose, pedra na vesícula, refluxo gastroesofágico e câncer. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é um dos principais problemas de saúde pública no planeta.